Desactualizado

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Localização: Portugal

sexta-feira, março 11, 2005


Lisboa em 1735

quinta-feira, março 10, 2005

A Grandeza do Aqueduto

Para a hipótese de não o teres presente lembro-te que este Aqueduto, recebendo a água da ribeira das Águas Livres, desde o Olival do Santíssimo em Caneças, mede até às Amoreiras 18 quilómetros e 605 metros, mas com as galerias e ramais irradiantes atinge 59 quilómetros e 838 metros. A galeria, na parte em que corre subterrânea, tem 4.650 metros, e passa sobre 109 arcos de cantaria; a caleira coberta de abóbada tem 137 clarabóias de respiração.
Estes passeios de cada um dos lados têm 66 centímetros de largura, e por fora corre ainda uma platibanda. Desde aquele "Alto da Serafina", onde o Aqueduto irrompe do sub-solo até aqui à "Entrada do Passeio", tem o monumento 941 metros, e assenta sobre 35 arcos, 21 de volta perfeita e os centrais, que são 14, em ogiva: este-o Arco grande-tem 65,25 metros de altura e 28,86 metros de largura.
Por uma das muitas portas que se abrem na galeria podemos espreitá-la: aí temos a água correndo, em duas caleiras, oferecendo um aspecto a um tempo agradável e sombrio. Os seus 2,80 metros de altura correspondem à grandeza da obra. Bem curioso é o trajecto por esta galeria até à Casa das Águas nas Amoreiras; não se pode sempre realizar porque nalguns troços a água estravasa da larga tubagem e torna a passagem impossível.

NORBERTO DE ARAÚJO, Peregrinações em Lisboa - livro XI

sábado, fevereiro 26, 2005

Campolide há uns anos


Campolide ainda com a ribeira

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Vista para o Tejo

"O que desconsolara Affonso, ao principio, fôra a vista do terraço - d'onde outr'ora, de certo, se abrangia até ao mar. Mas as casas edificadas em redor, nos ultimos annos, tinham tapado esse horizonte explendido. Agora, uma estreita tira de agoa e monte que se avistava entre dois predios de cinco andares, separados por um córte de rua, formava toda a paizagem defronte do Ramalhete. E, todavia, Affonso terminou por lhe descobrir um encanto intimo. Era como uma téla marinha, encaixilhada em cantarias brancas, suspensa do céu azul em face do terraço, mostrando, nas variedades infinitas de côr e luz, os episodios fugitivos d'uma pacata vida de rio: ás vezes uma véla de barco da Trafaria fugindo airosamente á bolina; outras vezes uma galera toda em panno, entrando n'um favor da aragem, vagarosa, no vermelho da tarde; ou então a melancolia d'um grande paquete, descendo, fechado e preparado para a vaga, entrevisto um momento, desapparecendo logo, como já devorado pelo mar incerto; ou ainda durante dias, no pó d'ouro das sestas silenciosas, o vulto negro de um couraçado inglez... E sempre ao fundo o pedaço de monte verde-negro, com um moinho parado no alto, e duas casas brancas ao rez d'agoa, cheias de expressão - ora faiscantes e despedindo raios das vidraças accezas em braza; ora tomando aos fins de tarde um ar pensativo, cobertas dos rosados tenros de poente, quasi similhantes a um rubor humano; e d'uma tristeza arripiada nos dias de chuva, tão sós, tão brancas, como nuas, sob o tempo agreste."

Eça de Queirós
Os Maias